O mundo fragmentado me faz tropeçar nas palavras. São informações, estímulos, notícias, sons, cores, gostos, texturas e cheiros arremessados em pouquíssimo tempo sobre minhas mãos. Um jato de conexão, um raio de interatividade, um relâmpago de comunicação e um blecaute na minha folha. Sabe a cegueira branca do eterno portuga, mestre dos tombos verbais, Saramago? Então, é desta mesmo que ‘estou a lhe escrever’. Olho para a faminta página vazia procurando dizer alguma poesia sobre as relações sociais. Tarefa difícil, sei eu, por isso precisei invocar a imagem de José e sua etimologia transviada genial nesta empreitada: curandeiro mágico.
E agora? Quer pergunta mais fadada a ser do que esta? Bom, depois de despejar estas duas conhecidas (in)conclusões sobre você, calço minhas luvas, minha cartola e minha serra e começo o espetáculo. Não, não será muito assustador, mas preciso do conhecido truque da mulher partida ao meio para ter alguma credibilidade. Devo acrescentar que este texto não procura uma resposta. Talvez ele apenas queira simpatia, afago, atenção e na pior das hipóteses, uma boa dose de paixão, podendo-se considerar até amor. Mas não fuja ainda, por favor. Eu tenho uma carta na manga para o grande final.
Tenho muitos melhores amigos. Com absoluta certeza. Para checar é só digitar meu nome completo em alguma página da internet. Aprendi com minha mãe a ser tecelã. Ela, confesso, demorou muitíssimo para me ensinar. Eu, contudo, já sei muito bem como balançar nas minhas redes sociais. Bendita tecnologia! Santa virtualidade! É fácil para minha mãe que, pacientemente, tem anotado em caderninhos ultrapassados todos os tipos de linhas e agulhas, dizer que o mundo cibernético mais afasta as pessoas do que as aproxima. “Vocês ficam horas na frente dessa tela conversando com estranhos e se esquecem de almoçar comigo”. Já para mim não é tão simples chegar a este ponto de vista.
Tenho muitos amigos. Com certeza. Por que ter um único amigo incrível se posso ter um monte deles? E o melhor de tudo é que estão sempre comigo. Não há abandono quando estou conectado. Assistimos aos mesmos filmes, ouvimos as mesmas músicas, lemos os mesmos livros, temos os mesmos ídolos, gostamos dos mesmos programas, somos apaixonados pelos mesmos aromas. E o melhor de tudo é que compartilhamos a nossa voz em tempo real. – Só um instante, preciso colocar meus óculos. É que tenho certo grau de astigmatismo. Pronto. Ah, já vou aproveitar e fechar as janelas, está esfriando, e em pleno verão, pode?
Tenho alguns amantes. Certeza. Não que eu seja a favor da banalização dos sentimentos, como fazem uns e outros. Não que eu precise me autoafirmar no momento em que contabilizo as pessoas de que gosto um pouco mais. Costumo dizer que são afinidades e oportunidades. É uma óbvia questão de probabilidade, mãezinha matemática: quanto mais pessoas eu conheço mais pessoas maravilhosas eu tenho a chance de conhecer. Faz sentido. Eu não devo explicações nesse aspecto. Só é preciso um único botão para que eu encontre um bom encontro feito de palavras e web cam. – Ai, estou começando a me cansar um pouco. Só um instante, leitor, vou tirar meus óculos. Eu tenho a vista cansada. Pronto. Ah, já vou aproveitar e abrir as janelas, está esquentando, em pleno inverno, pode?
Tenho um amante. Não, ainda não tenho o seu telefone e ele não sabe bem quais são as minhas intenções. Eu costumo deixar claro de quem eu gosto. Tenho muitas fotos em pastas novíssimas nos meus documentos, minhas imagens ou então nos arquivos recebidos. Nos encontramos todos os dias. É sempre bom. Dou risada, sinto-me bem. Fazemos juras de amor. Não, ainda não tenho o seu endereço. Ontem tive certeza de que gostou de mim. Acredita que curtiu a minha foto publicamente? “Vocês ficam horas na frente dessa tela conversando com estranhos e se esquecem de jantar comigo”. Minha mãe sempre foi bastante ciumenta. Eu também.
E agora? Quer pergunta mais fadada a ser do que esta? Bom, depois de despejar estas duas conhecidas (in)conclusões sobre você, tiro minhas luvas, minha cartola e minha serra de cena e encerro o espetáculo. Não, não foi muito assustador. Devo acrescentar que este texto não fez surgir um coelho branco. Talvez ele apenas queira tornar a assistente do mágico (in)visível. E, com palavras combinadas em imagens, almeje iludir todo o público. Mas não fuja ainda, por favor. Eu tenho uma carta na manga para o grande começo.
O mundo fragmentado me fez tropeçar nas palavras. São informações, estímulos, notícias, sons, cores, gostos, texturas e cheiros arremessados em pouquíssimo tempo sobre minhas mãos. Um jato de conexão, um raio de interatividade, um relâmpago de comunicação e um blecaute na minha memória. Sabe a personagem principal do eterno portuga, mestre dos tombos verbais, Saramago - o José da etimologia transviada - cuja espuma branca de cegueira não engole?
Eu não.
Tenho muitos melhores amigos. Com absoluta certeza. Para checar é só digitar meu nome completo em alguma página da internet. Aprendi com minha mãe a ser tecelã. Ela, confesso, demorou muitíssimo para me ensinar. Eu, contudo, já sei muito bem como balançar nas minhas redes sociais. Bendita tecnologia! Santa virtualidade! É fácil para minha mãe que, pacientemente, tem anotado em caderninhos ultrapassados todos os tipos de linhas e agulhas, dizer que o mundo cibernético mais afasta as pessoas do que as aproxima. “Vocês ficam horas na frente dessa tela conversando com estranhos e se esquecem de almoçar comigo”. Já para mim não é tão simples chegar a este ponto de vista.
Tenho muitos amigos. Com certeza. Por que ter um único amigo incrível se posso ter um monte deles? E o melhor de tudo é que estão sempre comigo. Não há abandono quando estou conectado. Assistimos aos mesmos filmes, ouvimos as mesmas músicas, lemos os mesmos livros, temos os mesmos ídolos, gostamos dos mesmos programas, somos apaixonados pelos mesmos aromas. E o melhor de tudo é que compartilhamos a nossa voz em tempo real. – Só um instante, preciso colocar meus óculos. É que tenho certo grau de astigmatismo. Pronto. Ah, já vou aproveitar e fechar as janelas, está esfriando, e em pleno verão, pode?
Tenho alguns amantes. Certeza. Não que eu seja a favor da banalização dos sentimentos, como fazem uns e outros. Não que eu precise me autoafirmar no momento em que contabilizo as pessoas de que gosto um pouco mais. Costumo dizer que são afinidades e oportunidades. É uma óbvia questão de probabilidade, mãezinha matemática: quanto mais pessoas eu conheço mais pessoas maravilhosas eu tenho a chance de conhecer. Faz sentido. Eu não devo explicações nesse aspecto. Só é preciso um único botão para que eu encontre um bom encontro feito de palavras e web cam. – Ai, estou começando a me cansar um pouco. Só um instante, leitor, vou tirar meus óculos. Eu tenho a vista cansada. Pronto. Ah, já vou aproveitar e abrir as janelas, está esquentando, em pleno inverno, pode?
Tenho um amante. Não, ainda não tenho o seu telefone e ele não sabe bem quais são as minhas intenções. Eu costumo deixar claro de quem eu gosto. Tenho muitas fotos em pastas novíssimas nos meus documentos, minhas imagens ou então nos arquivos recebidos. Nos encontramos todos os dias. É sempre bom. Dou risada, sinto-me bem. Fazemos juras de amor. Não, ainda não tenho o seu endereço. Ontem tive certeza de que gostou de mim. Acredita que curtiu a minha foto publicamente? “Vocês ficam horas na frente dessa tela conversando com estranhos e se esquecem de jantar comigo”. Minha mãe sempre foi bastante ciumenta. Eu também.
E agora? Quer pergunta mais fadada a ser do que esta? Bom, depois de despejar estas duas conhecidas (in)conclusões sobre você, tiro minhas luvas, minha cartola e minha serra de cena e encerro o espetáculo. Não, não foi muito assustador. Devo acrescentar que este texto não fez surgir um coelho branco. Talvez ele apenas queira tornar a assistente do mágico (in)visível. E, com palavras combinadas em imagens, almeje iludir todo o público. Mas não fuja ainda, por favor. Eu tenho uma carta na manga para o grande começo.
O mundo fragmentado me fez tropeçar nas palavras. São informações, estímulos, notícias, sons, cores, gostos, texturas e cheiros arremessados em pouquíssimo tempo sobre minhas mãos. Um jato de conexão, um raio de interatividade, um relâmpago de comunicação e um blecaute na minha memória. Sabe a personagem principal do eterno portuga, mestre dos tombos verbais, Saramago - o José da etimologia transviada - cuja espuma branca de cegueira não engole?
Eu não.