domingo, 5 de dezembro de 2010

Domingo

Domingo é o primeiro dia da solidão.

Vem como um soco que prenuncia.

Vem como um sábio espertalhão.

O primeiro da fila, a véspera do passo,

o abismo no estômago.

Há quem apenas descanse, não posso duvidar.

Há quem nada sinta de angústia,

de medo, de novo.

Pode ser um lapso de esperança.

Pode ser criança, sintoma de excitação.

Mas há de ser sempre incógnita.

Há de ser sempre o antes, o último.

É o velho e o novo de mãos dadas,

de mansinho, de cara pro tapa.

Dominado em 24 horas,

preso na casa dos ponteiros,

A suspensão se dá –

e de fato demora –

o dia inteiro.

A maçã de Picasso


A mulher dormia na cadeira.

Dormia abstrata e decomposta, talvez O sonho fosse de amor.

Talvez quisesse estar sonhando geometria.

A cadeira dormia na mulher,

Que descansava o rosto no ombro e a mão no vestido.

Que tinha pintado no lábio um sorriso inibido.

O sorriso da cor da cadeira.

A cadeira da cor de maçã.



Pintura de Pablo Picasso

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Bola de gato


O gato miau
Miou no quintal
Depois se esfregou espaçoso:
O tal!



Rolou embolado,
Bateu numa cesta,
Brincou com novelo,
Grudou no cabelo da bela menina.

Pediu um carinho
- Vem cá bichaninho!
Ganhou cafuné.
O gato danado dormiu no seu pé.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Máquina da vida

Máquina da vida. Luneta azul. O olho. O cego. O sonho. No bico da cegonha. A boca na fronha.
O sexo. O nexo. A tela magnética. Imagem e letra. Luneta. Passagem. Do olho. Do cego. Do sonho. Nasce interação. Reprodução sistêmica.
Virtual. Anêmica. No bico da cegonha. A boca na fronha. O sexo. O nexo. Convexo. Avesso. Órgão e palavra. Luneta. Tecnologia. Orgia. Sensação. O dedo. Tecla.
O globo
. Glóbulo azul. Máquina da vida.