terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Xeque mate

Acordei e não me lembrei de colocar a máscara.

Levantei da cama. Calcei as pantufas ainda molhadas do banho do dia anterior. Os dedos congelaram naquela textura. Arrastei os pés enrugados riscando o chão num contínuo barulho ressoante e irritante até a porta do quarto. A casa estava silenciosa, provavelmente ainda todos dormiam depois do carnaval de ontem. Virei a cabeça para os lados na tentativa de encontrar alguém, um parente, um amigo, um amante. Só pude perceber o sol entrando pela janela lateral da sala que fazia um desenho intrigante no piso. Era um jogo de luz e sombra. Jamais havia percebido como os raios do astro desenhavam uma linha horizontal constante no chão. Pisei. Um pé ficou no lado escuro e o outro no lado claro. Olhei um instante para minhas pernas naquela posição e caminhei para o banheiro. Escovei meus dentes. Bochechei o produto de branqueamento e lavei meus olhos. Foi aí que olhei para o espelho. Fez-se um estrondo. Parecia que o mundo caíra de vez e rolara como uma bola de gude atirada pelos dedos de uma criança. Ouvi passos finos subindo a escada, agora estariam mais perto de mim. Não pude esperar até que chegassem. Voltei meus olhos ainda molhados para o corredor. Uma fileira de crianças passeava pela sala. Aproximei-me devagar franzindo o nariz para poder focar a imagem um pouco destorcida. Diante de mim milhares de meninos e meninas se enfileiravam. A sala aumentou. Ficou bem maior do que meus braços abertos. Quando percebi estava no meio da roda e pude ouvir as vozes infantis cantarolarem: era uma vez um gato xadrez.

Xeque mate.

Um comentário:

  1. Quebra-cabeças literário, existencial até o osso. Só pq eu comentei, vc vai e me faz um texto branco e preto!

    ahahahah

    Bejo!

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