Ja passava da hora. O verbo, do dedo, não saía. Condoia na pele, no traço da boca, no franzir os olhos. Eu não experimentava luz. Seu rosto ardia em minha lembrança. Ardia a sua presença no passado. Aquele seu andar de cisco infantil. A respiração de formiga. Se uma brisa existisse - e eu rezava - se uma brisa existisse provavelmente a partiria no meio apenas com o sopro. De tão leve, seu nome era Pluma.
Seu nome era Sol. Ao meio-dia despertava um sorriso. Jogava a âncora e atracava com pés de astronauta. Aquela sua roupa cintilava toda a tarde de um cinza breve e tão pesado quanto minha consciência. Podia contar nos dedos quantos dias você me visitava. Chegava com seus cabelos soltos, envoltos de qualquer recibo, comprava algum lance de escada e vencia o meu aposento.
Seu nome era Flor. Enraizava seus gestos a minha cama. Nutria-se da minha condição para sugar a seiva daquela tarde. Era um banquete. Verde como seu caule, suas folhas, seus nervos. Tremia a terra num terremoto terrível, qual um carro viajando na face da lua.
Seu nome era Erva. Danava meus pés. Era a brisa - que eu tanto rezava - era a brisa que existia e passava. Como fora crescer assim? Como fora regada e agora apertava meu osso num abraço fatal? Como chamara a noite, o abismo, o pó? A tarde sucumbia aos poucos em seu nome.
Seu nome era Vela. Sua voz era o barco. Você tem vida na água. Mais uma vez você tem ventre de vento. A maré fica alta e quase me afogo nas palavras. Vem formando uma onda no horizonte. Vem a tempestade. Já era tarde. Já era hora. A ventania derrubou o vaso. Fechou a janela, partiu no meio o espelho.
Seu nome era Nome. Você chamava a atenção de minha invalidez. O tempo passara voando para mim e não lhe envelhecera. Continuava criança, espoleta, espingarda. O gatilho para o verbo abandonar meu dedo foi vê-la partir pela última vez. Olhou-me já verstida e limpa. Ajeitou o cabelo, retocou os lábios, pegou-me um copo de água, papel e caneta e deixou sua presilha.
Seu nome Era.
Pluma, Sol, Flor, Erva, Vela, Nome, Era.
ResponderExcluirDe alguma forma, o que você escreveu encontra ecos no que escrevi dia desses. Tenho uma personagem cujo nome é Sophia (ou será que ela me tem?) aliás, tinha, porque eu matei o nome dela e questiono muito essa coisa da identidade, do nome.
Foi o Pitanga que me passou teu blog. E gostei do que li.
Vim dividir sensibilidade aqui com você :)
Beijos,
Acho que sou muito concreto para esse tipo de texto que vejo no blog da Linguaruda e agora vi no seu blog.
ResponderExcluirÉ interessante, porque para mim às vezes consigo interpretar coisas, trago ao mundo concreto, mas logo me frustro ao imaginar que interpretei errado... às vezes fixo os olhos e imagino, mas nada me vem, apenas imagens aleatórias como se fosse um sonho...
Vou continuar acompanhando! Desejo conhecer mais desse mundo diferente de vcs! Preciso aprender e a me sensibilizar!
Beijo!