"Ele sabia que por vezes era preciso que coisas vivas fossem mortas para que outros vivessem." Rubem Alves
A cadeia alimentar prendia seus pensamentos. Eu, que só podia me fortalecer bebendo suas filosofias cíclicas, seus olhos grandes e redondos e a belíssima ruga desenhada em sua testa infantil, questionava toda a existência. Por que haveríamos de nascer se acabaríamos morrendo?
A relva nasce na terra, se alimenta de nutrientes e morre.
O boi nasce, se alimenta da relva na terra, que se alimenta dos nutrientes e morre.
O homem nasce, se alimenta do boi, que se alimenta da relva na terra, que se alimenta dos nutrientes e morre.
De tiro, de acidente, de doença. Já soube de quem morreu de tédio e até de amor.
O homem morto volta para a terra. A mesma da qual brota a relva, pasta o boi, pisa ou jaz o homem.
Costumava terminar sua odisséia mental falando sobre a liberdade. Devaneava sobre uma tal porta cuja chave dourada destrancaria sua linha de raciocínio. Depois, pegava o lápis, ía para a linha do caderno e escrevia o que mais me saciava:
"Nós ainda temos fome."
Escrita é fonte, sede e memória!
ResponderExcluirEu tenho fome de escrita e de leitura! Mas queria viver muitos anos, porque a memória não tem graça, é o beber da fonte no dia que dá sabor ao insípido gosto da água da fonte!
Nascemos com fome de vida. Dela e do mundo, nos alimentamos, e podemos até escolher o quê, como, com quem comer. Ou, até mesmo, passarmos dias inanes. Contudo, importante é não somente comermos, como também alimentarmos, e bem, o mundo. E a ele, sermos gratos. Dessa maneira, talvez permitimos que a cadeia não somente se repita ciclicamente mas, principalmente, evolua.
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